quinta-feira, 20 de março de 2008

Novos tempos

Arara no Parque das Aves. Foz do Iguaçu (by Hormiguita Viajera)

Ja disseram nossos conhecidos refrões da Rede Globo: HOJE É UM NOVO DIA, DE UM NOVO TEMPO QUE COMEÇOU. Pois é assim mesmo meus amigos. Novos tempos. Os que tem acompanhado este blog e/ou as mensagens que ponho no messenger saberão exatamente onde fica cada uma das regiões de tão linda terra que é Poraí, a simpatia e hospitalidade de seus cidadãos. Eu realmente sinto saudades de lá.
A readaptação à minha cidade natal esta sendo um processo muito interessante na minha vida. Depois de viajar pelas mais distintas províncias de Poraí: merrrrmãoland, orapoispoisland, oleland, congelador russo, cheboludoland, weonland, mamachitaland, óxentiland, limamanta e tantas outras, voltar à terra natal e ter uma vida normal não é lá a tarefa mais simples.
Eu esqueci completamente o significado de algumas coisas que são cotidianas para a maioria das pessoas normais deste planeta. Lavar louça, cozinhar, pegar trânsito, ter fim de semana, dormir e acordar sempre na mesma hora, comer comida caseira, dirigir carro, se preocupar com os perigos da cidade, ter conta em banco com talão de cheque e cartão entre muitas outras.
Quando se viaja, simplesmente se vive numa situação surreal, completamente fora do comum (é pra isso mesmo que a gente viaja, né!). Estive nessa condição nos ultimos dois anos, morando de hotel em hotel, arrumando as malas e levando a casa nas costas a cada no máximo 7 dias, comendo em restaurante todos os dias, com a saudade dos amigos e da família apertando no coração, passando por uma (ou frequentemente mais) situações inusitadas todos os dias (vide post do cupido internacional por exemplo!!)
E a vida de volta à casa traz a serenidade, a rotina, a segurança. O carinho dos amigos, o amor da familia. Também muitas ligações no celular, convites pra sair, novas oportunidades de trabalho, novos contatos e a certeza de que eu posso ser encontrada facilmente em um telefone de DDD 011.
Uma viagem não esta completa se não possui ida, viagem e volta. Sendo assim, desta maneira: Tô na area, pro que der e vier.
Coloco a letra de uma música do Gabriel o Pensador que ja tinha sido postada há muito tempo, mas so a primeira parte.
E então tá então! Agora EU VOU FICAR NO BRASA PORQUE O BRASA É A MINHA CASA, CASA DO MEU CORAÇÃO.

Brasa

Gabriel Pensador

Composição: Gabriel O Pensador/Lenine

Um poeta já falou, vendo o homem e seu caminho:
"o lar do passarinho é o ar, e não o ninho".
E eu voei... Eu passei um tempo fora, eu passei um tempo longe.
Não importa quanto tempo, não importa onde.
Num lugar mais frio, ou mais quente de repente, onde a gente é esquisita, um lugar diferente.
Outra língua, outra cultura, outra moeda.
É, vida dura mas eu sou duro na queda.
Se me derrubar... eu me levanto, e fui aos trancos e barrancos, trampo atrás de trampo, trabalhando pra pagar a pensão e superar a tensão do pesadelo da imigração.
Clandestino, imigrante, maltrapilho.
Mais um subdesenvolvido que escolheu o exílio, procurando a sua chance de fazer algum dinheiro, no primeiro mundo com saudade do terceiro.
Família, amigos, meus velhos, meu mano - o meu pequeno mundo em segundo plano.
Eu forcei alguns sorrisos e algumas amizades.
Passei um tempo mal, morrendo de saudade.
Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade.
Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...
Da beleza poluída, da favela iluminada, do tempero da comida, do som da batucada.
Da cultura, da mistura, da estrutura precária.
Da farofa, do pãozinho e da loucura diária.
Do churrasco de domingo, o rateio e o fiado, a criança ali dormindo, o coroa aposentado.
Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...
Da mulata oferecida, do pagode malfeito, de torcer na arquibancada pro meu time do peito.
A pelada sagrada com a rapaziada, o sorriso desdentado na rodinha de piada.
Da malandragem, da nossa malícia, da batida de limão, da gelada que delícia!
Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...
Do jornal lá na banca, da notícia pra ler, das garotas dos programas da TV.
Do jeitinho, do improviso, da bagunça geral.
Do calor humano, do fundo de quintal.
Do clima, da rima, da festa feita à toa - típica mania de levar tudo na boa - do contato, do mato, do cheiro e da cor.
E do nosso jeito de fazer amor.

Agora eu sou poeta, vendo o homem a caminhar:
o lar do passarinho é o ninho, e não o ar.
E eu voltei. E eu passei um tempo bem, depois do meu retorno.
Eu e minha gente, coração mais quente, refeição no forno.
Água no feijão, tô na área, bichinho.
Se me derrubar... eu não tô mais sozinho.
Tô de volta sim senhor.
Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor.
Mas o amor é cego.
Devo admitir, devo e não nego, que aos poucos fui caindo na real, vendo como o Brasa tava em brasa, tava mal.
Vendo a minha terra assim em guerra, o meu país... não dá, não dá pra ser feliz.
E bate uma revolta, e bate uma deprê.
E bate a frustração, e bate o coração pra não morrer.
Mas bate assim cabreiro.
Bate no escuro, sem esperança no futuro, bate o desespero.
Bate inseguro, no terceiro mundo, se for, com saudade do primeiro.
Os velhos, os filhos, os manos - ninguém aqui em casa tem direito a fazer planos.
Eu forcei alguns sorrisos e lágrimas risonhas.
Passei um tempo mal, morrendo de vergonha.
Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha.
Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...
Da beleza poluída, da favela iluminada, da falta de comida pra quem não tem nada.
Da postura, da usura, da tortura diária.
Da cela especial, da estrutura carcerária.
A chacina de domingo, o rateio e o fiado, a criança ali pedindo, o coroa acorrentado.
Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...
Da mulata oferecida, do pagode malfeito.
Morrer na arquibancada pro meu time do peito.
O salário suado que não serve pra nada, o sorriso desdentado na rodinha de piada.
Da malandragem, da nossa milícia, da batida da PM, porrada da polícia.
Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...
Do jornal lá na banca, da notícia pra ler, das garotas de programa dos programas da TV.
Do jeitinho, do improviso, da bagunça geral, do sorriso mentiroso na campanha eleitoral.
Do clima de festa, da festa feita à toa - ridícula mania de levar tudo na boa - do contato, do mato, do cheiro da carniça.
E do nosso, jeito de fazer justiça.
Mas eu vou ficar no Brasa porque o Brasa é minha casa, casa do meu coração.
Mas eu vou ficar no Brasa porque o Brasa é minha casa e a minha casa só precisa de uma boa arrumação.
Muita água e sabão.
Ensaboa, meu irmão.
Não se suja não.
Indignação.
Manifestação.
Mais informação.
Conscientização.
Comunicação.
Com toda razão.
Participação.
No voto e na pressão.
Reivindicação.
Reformulação.
Água e sabão na nossa nação.
Água e sabão, tá na nossa mão.
Tô morrendo de paixão, tô morrendo de paixão...

Nenhum comentário: